Vigilância epidemiológica em Moçambique
Vigilância de doenças de notificação
obrigatória em Moçambique.
O sistema de
vigilância destas doenças segue exactamente o processo normal de notificação
das doenças do sistema em vigor no país.(o sarampo, PFA/Pólio, malária,
diarreia, cólera, disenteria e meningite. Nesta aula serão abordadas o tétano,
a raiva, a peste, a tripanossomíase e tosse convulsa).
ATétano
Tétano é uma
doença infeciosa grave que frequentemente leva a morte. É causada pela toxina
de uma bactéria chamada clostridium tetani.
Tétano neonatal
Considera-se
como tendo tétano neonatal qualquer recém-nascido que mame e chore normalmente
até ao 2º dia de vida, mas que entre o 3º e o 28º dia apresente dificuldades em
chorar e mamar normalmente associados a rigidez e/ou espasmos musculares, e
frequentemente, morte.
Tétano adulto
A definição
inclui qualquer pessoa com graves espasmos (contracções) musculares e “riso
sardónico” e dificuldade em abrir a boca (trismus). Frequentemente é precedido
por uma ferida.
O tétano é de
notificação semanal através do BES em todas unidades sanitárias.
Raiva
É definido como
caso de raiva, quando após a presença de mordedura de um animal, geralmente cão
ou macaco e mais raramente humana, com irritação no local da ferida o indivíduo
apresenta um estado de ansiedade, mal-estar geral, febre e cefaleia, seguido de
excitabilidade, hidrofobia (medo de água).
Nota: a doença tem a duração média de 2
a 6 dias, dependendo da localização da ferida, levando invariavelmente à morte
por paralisia respiratória. Todos casos de mordedura animal são
notificados como raiva semanal através do BES em todas unidades sanitárias.
Tosse convulsa
É definida como
tosse há pelo menos duas semanas e caracterizada por pelo menos um dos
seguintes sinas: salva de tosse, inspiração em guincho ou vômito a seguir à
tosse sem outra causa aparente
Nota: crianças
com menos de 6 meses de idade, adolescentes e adultos podem ter tosse convulsa
sem o guincho característico, levando a que a doença seja confundida com uma
pneumonia. Não faz parte da lista de doenças que consta do BES mas continua a
ser de notificação obrigatória.
Peste
Apresenta duas
variantes:
Peste bubónica
Definida como
febre alta e estado geral alterado, adenite dolorosa (bubão), geralmente
axilar, cervical ou inguinal.
Peste
pneumónica
Definida como
tosse com hemoptise (sangue na expectoração), dor torácica e dificuldade
respiratória.
A sua
notificação é semanal através do BES em todas unidades sanitárias.
Tripanossomíase
(doença do sono)
É definida como
qualquer síndrome febril com sintomas gerais (linfadenopatia, anemia, exantema,
edemas) ou sinais neurológicos (sonolência, tremores musculares) com a presença
do parasita (trypanossoma brucei rhodesiense) no sangue ou líquido
cefalorraquidiano. A sua notificação só é feita após confirmação
laboratorial. Actualmente já não faz parte da lista de doenças que constam do
BES por causa da sua raridade, mas continua a ser uma doença de notificação
obrigatória. É uma doença alvo de erradicação.
Vigilância de
outras doenças do Sistema Nacional de Saúde.
Fazem parte
deste ponto as chamadas doenças de notificação separada, que inclui a lepra, a
tuberculose, o SIDA (síndrome de imunodeficiência adquirida) e as ITSs
(infecções de transmissão sexual).
Lepra
Presença de
pelo menos um (1) dos seguintes sinais/sintomas clínicos:
-
Lesões cutâneas (mancha clara ou nódulo) com perda de sensibilidade
-
Nervos periféricos engrossados
-
Presença de Bacilos de Hansen nas lesões cutâneas
Faz parte das
doenças em eliminação no país. A eliminação se declara quando existem < 1
caso em cada 10.000 habitantes.
A notificação
dos casos de lepra é feita por todas as Unidades Sanitárias que fazem
tratamento com a terapêutica de multidrogas. A informação é compilada ao nível
do distrito pelo responsável distrital de Lepra que envia trimestralmente para
o nível provincial. Por sua vez, o nível provincial, compila e envia,
trimestralmente, para o nível central (MISAU).
Tuberculose
É classificada
em pulmonar e extrapulmonar.
· TB Pulmonar
Definida como
presença de Bacilo de Koch na microscopia directa da expectoração (afectação
pulmonar) de um doente com sintomatologia pulmonar.
· TB
Pulmonar com baciloscopia negativa
É definida como todo doente com
sintomatologia pulmonar e ausência de Bacilo de Koch na microscopia directa de
expectoração e que receba tratamento antituberculoso.
· TB
extrapulmonar
Definição: todos os outros pacientes com
TB localizada fora dos pulmões e com tratamento antituberculoso.
A notificação
de casos de tuberculose é trimestral e pode ser feito a partir de todas as
unidades de nível primário. A informação é compilada ao nível do distrito pelo
responsável distrital de tuberculose que envia trimestralmente para o nível
provincial. Por sua vez, o nível provincial, compila e envia, trimestralmente,
para o nível central (MISAU).
HIV
Deve ser notificado como caso de HIV e SIDA todo indivíduo com teste HIV
positivo.
O registo é
efectuado aos nível das unidades de aconselhamento e testagem em saúde (UATS),
local onde se faz o teste de HIV, e em todos outros locais que ofereçam o teste
de HIV. A informação é compilada mensalmente.
Periodicamente,
faz-se a vigilância epidemiológica da prevalência do HIV no país através de
postos sentinelas. Em 2009, realizou-se o primeiro inquérito nacional (INSIDA
2009) que mostrou uma prevalência nacional de 11.5%
ITS
Qualquer uma
das seguintes situações é abordada como uma infecção de transmissão sexual:
-
Corrimento uretral – presença de secreção ao nível da uretra anterior, muitas vezes
acompanhada de disúria (dor ao urinar) ou de sensação de queimadura (ardor) ao
nível do meato.
-
Corrimento vaginal – aumento ou não do volume da secreção
vaginal, acompanhada de cheiro e de mudança de cor, resultante de uma infecção
vaginal ou cervical.
-
Úlceras genitais – perda de continuidade do revestimento cutâneo produzindo uma ou várias
lesões ulcerativas ao nível dos órgãos genitais. Frequentemente acompanhado de
uma adenopatia inguinal.
As ITSs são notificadas mensalmente através de dois subsistemas, um para os
níveis de atenção primária e secundária através de uma abordagem sindrómica, ou
seja, conjunto de sinais e sintomas e outro para os níveis terciário e
quaternário, com base numa abordagem etiológica, ou seja, provável causa da
infeção.
Boletins
Estatísticos Semanais, Mensais e Trimestrais.
BES (Boletim
Epidemiológico Semanal)
É o instrumento
que é utilizado para fazer a notificação das doenças de notificação
obrigatória. Todas as unidades sanitárias do país devem preencher este modelo e
resulta da compilação de todos os casos novos e óbitos das referidas doenças a
partir das diferentes portas de entrada de pacientes de cada unidade sanitária.
Aquelas doenças
que apresentam características especiais de acordo com a idade ou outro ítem
devem obedecer a regra de preenchimento conforme recomendado, por exemplo para
o sarampo deve ser indicada a idade exacta com que o paciente se apresenta, etc.
Se o resultado
da doença for um óbito, o caso deve ser registado no mesmo dia, mesmo que tenha
sido registado anteriormente, como caso novo.
Depois do
controlo de qualidade e respectivas correcções, deve-se completar o
preenchimento do BES, que engloba o nome da US, do
Distrito, datas da semana no canto superior direito e o número da
semana epidemiológica que permite identificar o BES.
Na parte
posterior, deve-se escrever qualquer observação de interesse epidemiológico a
transmitir ao nível superior.
O BES é
semanal, e deve ser preenchido e enviado de acordo com as normas de semana
epidemiológica da OMS, isto é, de segunda a domingo de cada semana.
Cada US deve ter um responsável do BES que
garante:
· A correcta
notificação dos casos
· O preenchimento das
fichas de registo ou folhas de contagem
· Colecta da
informação (em cada segunda-feira) e compilação (soma de casos e óbitos por
cada doença)
· Garante o controlo
de qualidade do BES
· Garante o envio
semanal às 3as feiras
Boletim Estatístico Mensal e Trimestral (BEM, BET)
Estes contêm os
resumos (ou compilações) dos boletins semanais. Com estes instrumentos é
possível ter uma visão acerca das tendências das doenças notificadas pelo BES e
verificar a ocorrência de prováveis anomalias de modo a propor as devidas
correções. É também nestes boletins onde são registados os casos das doenças
que são notificadas mensalmente e trimestralmente, de acordo com a sua
frequência.
Notificação de casos
Os casos de doenças devem sempre ser
notificados através de modelos próprios. No entanto, surgem situações
particulares de transferência de doentes dentro da US ou para outra US.
Na transferência dentro da mesma US: o
último serviço onde o doente foi atendido, é o responsável pela sua
notificação. Exemplo: uma criança com diarreia e desidratação grave é visto na
consulta externa de pediatria (serviço 1) do Hospital Rural de Alto-Molócuè,
mas é internada na Pediatria (serviço 2) do mesmo Hospital. É a Pediatria
(serviço 2) que deve notificar o caso.
Transferência para outra US: deve ser
notificado na US que está a transferir e registar que já foi notificado. Antes
de transferir o doente para outra US, deve ser sempre registado na guia de
transferência “já notificado”. Se a US que recebe verificar que a guia
tem a frase “já notificado”, então não notifica o caso. Se a US que recebe
verificar que a guia não tem a frase “já notificado” deverá notificá-lo.
PONTOS-CHAVE
-
As doenças de notificação obrigatória são
doenças infecciosas que fazem parte dos roblemas de saúde ou que têm um curso
grave.
-
A maioria das doenças de notificação
obrigatória devem ser notificadas semanalmente (através do BES – sarampo,
tétano, raiva, PFA, malária, diarreia, cólera, disenteria, peste e meningite).
-
A lepra e a tuberculose são notificadas
trimestralmente
-
As outras doenças de notificação paralela
são notificadas mensalmente (HIV e ITS).
-
O boletim epidemiológico semanal é o
formulário para as doenças de notificação obrigatória
- As regras de notificação de casos devem
ser sempre observadas e seguidas rigorosamente para se evitar duplicações ou
ausências de notificações de casos.
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trabalho excelente
ResponderEliminartrabalho excelente
ResponderEliminarO trabalho esta bom. No entanto sugiro que coloque as referencias bibliograficas de onde a informacao foi estraida afim de reforsar as nossas leituras.
ResponderEliminarConcordo! Assim podemos seguir mais a fundo no tratamento dos temas. Assim como tar uma visão mais global deles
EliminarACHEI O POST MUITO UTIL.... VOU FAZER O MELHOR PROVEITO
ResponderEliminarExcelente
ResponderEliminartrabalho. Continue actualizando a pagina